Vinho laranja não é um bom nome. Skin contact whites (brancos em contato com a casca), como é conhecido em inglês, também não soa bem. Podemos adotar o nome preferido pelos seus produtores: vinho âmbar ou simplesmente branco macerado com a casca. Achou confuso? Então vamos explicar:
Vinho laranja ou vinho branco?
Os vinhos brancos, com muitos já devem saber, são feitos somente com a polpa das uvas brancas ou tintas. As cascas não entram no processo, e por isso, quando elaborados de uvas tintas, eles não possuem a coloração característica dessas castas. No entanto, a exceção é o vinho laranja, ou âmbar. Eles são feitos somente de uvas brancas, mas com processos similares aos dos vinhos tintos, ou seja, as cascas permanecem durante a fermentação. Outro fator característico essencial nesse tipo de vinho é o tempo de maturação; que muitas vezes é incrivelmente longo. Então, por que não chamamos apenas de vinhos brancos? A diferença está no resultado. Um apreciador costumeiro de vinho branco ao se deparar com um vinho laranja será surpreendido pelo seu sabor, além da cor. Quanto à coloração, a presença da lignina (composto orgânico) das cascas durante a maceração, dá aos vinhos os tons que variam do alaranjado ao cobre, passando por gradações de ocre, ouro, palha e dourado.
As cores dos vinhos: tinto, rosé, laranja e branco.
É um vinho branco com tons de laranja. Se confunde com a cor de vinho branco oxidado, mas não é isso, pois a cor vem da casca e não da oxidação. A diferença realmente importante em relação aos brancos fica por conta dos sabores e aromas. As cascas são fontes de taninos, o que dá aos vinhos laranjas estrutura, corpo e bastante complexidade. Com uma personalidade forte, alguns diriam extravagantes, o vinho âmbar veio para ser amado e odiado pelos enófilos. Numa análise gustativa, ele se mostra próximo dos tintos mais delicados com sutis notas oxidativas e terrosas. Seus aromas remetem a frutos secos como nozes, ameixas, damasco, etc. É um tipo de vinho muito versátil que aumenta as possibilidades de harmonização. Acompanha muito bem pratos fortes como cordeiro, carnes de caça e aqueles muitos temperados presentes na culinária tailandesa e indiana.
Técnicas naturais e milenares do vinho âmbar
Os Vinhos Laranjas ficaram conhecidos por serem naturais porque os produtores (Gravner e Radikon) que trouxeram de volta técnicas antigas, adotam uma filosofia de vinificação baseada no respeito ao meio ambiente e procuram manter viva uma tradição milenar de vinificação. No entanto, isso não quer dizer que todo vinho laranja seja necessariamente orgânico ou biodinâmico. A essência desses vinhos está no processo e começa com a escolha das castas, porque não são todas que possuem as características necessárias. É preciso uma casca grossa e bastante compostos fenólicos antioxidantes para que resistam ao tempo (oxidação). As mais usadas são: Ribolla Gialla - com pele grossa, bastante acidez e muito sabor, é a principal uva branca da região de Friuli-Venezia Giulia (Itália) e de Brda (Eslovênia). Documentos escritos em 1289 já apontam sua existência nessa região. A Ribolla é uma das castas mais usadas nos vinhos laranjas italianos e os vinhos feitos com ela costumam ser encorpados. Sauvignon Vert - uva branca originária da região do Vêneto com grande presença na região de Friuli, que posteriormente se espalhou para toda a Itália e resto do mundo. Tem grande potencial para apresentar níveis elevados de álcool, o que contribui na elaboração do vinho âmbar. Pinot Grigio - chamada de ramato (ruivo) em italiano, é uma casta branca que nasceu para ser um clone da Pinot Noir. Conhecida desde a idade média, na França, ficou esquecida por décadas. Devido aos vinhos laranjas, a partir de 2005, goza de grande popularidade. Os vinhedos são submetidos a baixa produção de frutas e colhidas tardiamente para aumentar a concentração de açúcares e polifenóis. Em seguida são prensadas e depois colocadas (mosto e cascas) dentro de enormes ânforas de terracota ou tanques de cimento para que ocorra a fermentação alcoólica. Com o objetivo de manter as técnicas ancestrais, os produtores não usam leveduras comerciais; somente leveduras selvagens.
As ânforas (qvevri) são enterradas para a fermentação do vinho laranja.
Essas ânforas muitas vezes são enterradas para que recebam menos variações de luz, temperatura e oxigênio. Durante essas longas macerações, o álcool atua como um solvente e faz com que o sumo (mosto) da uva extraia das cascas substâncias como taninos, antocianos e alguns aromas. O tempo de maceração vai depender da casta. Varia de algumas semanas até 6 ou 8 meses, e durante esse processo ocorre uma decantação natural dos sedimentos. Após isso é realizada a trasfega, que é a transferência do líquido para outras ânforas, a fim de filtrar o vinho. Como não são usadas técnicas modernas de filtração e clarificação, o vinho laranja na maioria das vezes tem um aspecto turvo. E finalmente, nas ânforas de barro, permanecem por anos envelhecendo e se transformando antes do engarrafamento. Essa tradição milenar faz com que os vinhos sejam bastante heterogêneos, sem padronizações comerciais, pois não são “corrigidos” com técnicas modernas. Deixam evidentes as características das castas, e isso ocorre tanto para o bem, como para o mal. O fato é que são necessários anos de vitivinicultura para se arriscar nos métodos naturais de vinificação. Demanda tempo, habilidade quase artesanal e toda uma filosofia por trás do trabalho. Por esse motivo, a produção mundial é pequena e, talvez, nunca atinja uma larga escala.
Geórgia: histórias antigas da vinificação
O mais conhecido produtor de vinhos laranjas é o italiano Josco Gravner. Seus vinhedos ficam nas montanhas (Collio) de Oslavia, na região de fronteira com a Eslovênia chamada de Friuli-Venezia Giulia – reconhecida pela produção de vinhos brancos. Junto com seu amigo e também produtor, Stanislao ‘Stanko’ Radikon, foi o responsável pela redescoberta das antigas técnicas em meados da década de 1990. Mesmo com anos de experiência em produzir vinhos brancos, abandonou as técnicas modernas e partiu em busca das origens da vinificação. A jornada o levou até a Geórgia, na região do Cáucaso; uma terra antiga de muitas tradições.
A vinificação moderna, a partir da década de 1950, deixou para trás técnicas primitivas que Gravner se propôs a resgatar. A fermentação dentro de ânforas de terracota, tradição com mais de 5,000 anos na Geórgia, era uma delas. Chamadas de qvevri no idioma local, elas recebem o mosto (com as cascas), são fechadas e depois lacradas com cera de abelha para serem enterradas. Após esse reaprendizado, Gravner viu seus vinhos alcançarem a notoriedade e conquistar apaixonados, enquanto surgiam seus primeiros discípulos. Fora da Itália e Eslovênia (particularmente na região de Brda), produtores franceses, americanos, austríacos e até brasileiros começaram a se arriscar nessa difícil maneira de produzir vinhos. O nome vinho laranja se deu por acaso. Em 2004, um importador londrino, David Harvey, sem qualquer intenção de rotular ou inventar, chamou um “branco macerado com cascas” de orange wine (vinho laranja) e a onda se espalhou. Enquanto a fama desses vinhos aumenta ano após ano, atiçando a curiosidade dos enófilos, muitos especialistas ironizam a novidade e a chamam de retrocesso na vinicultura.
Conclusão
Acreditamos que o vinho âmbar veio para ficar. Com seus aromas intensos, tons profundos e sabores complexos, ele acrescenta novas experiências ao mundo gastronômico. Eles são marcantes, exóticos e quase indecifráveis - e isso é um grande elogio. Equipe VinumDay • um vinho para cada dia
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Lembro até hoje da primeira vez que provei um Godello de Bierzo: foi o Ultreia, de Raúl Pérez.
Os aromas de frutas de caroço maduras, flores e aquela mineralidade envolvida pela complexidade da maturação sobre as lias me fascinaram e permanecem vivos na memória. Desde então, sempre que revisito um Godello desta região, minha admiração renasce.
Foi com essa lembrança que, recentemente, conheci o vinho de JAG (José António García). Ao prová-lo, percebi que estava diante de um exemplar capaz de despertar em mim tanto fascínio quanto o primeiro que experimentei.
JAG começou a elaborar vinhos em 2010, mas carrega a tradição de uma família que cultiva vinhas em Bierzo há gerações. Iniciou seu trabalho nas instalações de Raúl Pérez e, hoje, conduz a vinícola ao lado da esposa, seguindo uma filosofia que garante a máxima expressividade do terroir: viticultura orgânica, colheitas precoces e fermentações espontâneas com leveduras selvagens. Seus vinhos são fiéis representantes do lugar de onde vêm.
Chamado de “A Borgonha espanhola”, Bierzo valoriza suas castas autóctones, especialmente a tinta Mencía e a branca Godello, e adotou um sistema de classificação inspirado na renomada região francesa, destacando origens regionais, de aldeia e de vinhedo único.
O varietal de JAG pertence à categoria Vino de Villa e nasce de vinhas em solo de xisto em Valtuille de Abajo, plantadas em 1860 — isso mesmo, há mais de 160 anos!
A fermentação ocorreu espontaneamente em foudres de 500 litros de carvalho francês, permanecendo 11 meses sobre as borras finas, sem malolática, preservando a energia e vivacidade da fruta.
Na taça, é um vinho de grande riqueza aromática: flores brancas e ervas frescas se combinam com frutas maduras, como maçã, pera e damasco, contornadas por notas amêndoas e pão tostado, além de notas de sílex, que reforçam sua mineralidade.
No paladar, a acidez pulsante confere ritmo, enquanto a textura cremosa preenche a boca. Os sabores se desdobram em camadas harmoniosas — jasmim, frutas maduras, nuances tostadas e toques minerais — até um final longo, preciso e revelador da tipicidade varietal.
O Godello de José António García mantém viva a minha admiração pelos brancos de Bierzo e, certamente, é mais um exemplar desta magnífica região que ficará gravado na memória.
Aproveite a oferta desta semana e viva você também esta experiência!
O Merlau é uma ave nativa da Serra Gaúcha com um gosto muito peculiar: adora uva madura, no ponto de ser colhida, doce e suculenta. É ele quem anuncia que é chegada a hora da vindima quando começa a bicar os rechonchudos grãos ainda pendurados nas vinhas, alimentando-se da fruta que vinificada se transformará no néctar de Baco e Dionísio.
A vinícola boutique de Caxias do Sul Vinha Solo deu ao Merlau um rótulo só dele, homenagem ao mensageiro da nova safra, e o Pássaro Negro tem uma bela história a contar.
100% Merlot, é um corte inusitado de duas safras com quase dez anos as separando!
A de 2009 entrega a sutileza da fruta vermelha madura com um toque de ervas aromáticas frescas. Já a de 2018, aporta corpo ao assemblage, com a mesma fruta vermelha, mas desta feita mais densa, de acidez pungente e notas amadeiradas e terrosas, que remetem a canela em pau, fava de baunilha e cogumelos.
Praticante da vinicultura que descreve como “do bem”, a Vinha Solo impressiona pela consciência ecológica e cuidado nos processos de vinificação com a mínima intervenção humana possível.
Para o seu Pássaro Negro Merlot 2009/2018 foi primordial a atenção ao momento exato de colheita, escolhendo-se somente uvas no ponto correto de maturação. Após seleção manual da fruta e fermentação sob temperatura controlada, o vinho aguardou em tanque até o momento da feitura do blend, decantando naturalmente. O engarrafamento aconteceu sem filtragem.
Ótimo companheiro à mesa, harmoniza deliciosamente com saladas bem temperadas tendo queijos ou cogumelos dentre os ingredientes, além de molhos à base de tomate e carnes de cozimento longo.
Um tinto excelente e de excelência, lançado com exclusividade pela VinumDay em 2021, e que retorna hoje ao nosso palco participando da nossa criteriosa seleção de vinhos nacionais da campanha Brasil: da alquimia à arte.
Um vinho capaz de conquistar o paladar do enófilo iniciante e de superar as expectativas do mais experiente! E, tudo isso por menos de 100 reais!! Não por menos também conquistou o time da Revista Adega, que lhe atribuiu ótimos 91 pontos.
Aproveite para rechear sua adega! Esse raio não cairá por aqui novamente ;)