Cientificamente é comprovado - as mudanças climáticas estão acontecendo. Mas, será que afetam a qualidade do vinho?
Temos que admitir, a resposta é SIM.
A viticultura é uma ciência altamente dependente do clima, portanto, o impacto é perceptível.
O que são as mudanças climáticas?
São transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Podem ser naturais, como as variações no ciclo solar. Mas, as atividades humanas são o principal impulsionador de tais mudanças, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
O maior impacto é o aumento das temperaturas, consequentemente, ocorre maior evapotranspiração, aumentando a probabilidade de estresse hídrico da planta. Além desse, outros efeitos incluem mudanças na distribuição das chuvas, maior variabilidade e frequência de eventos climáticos extremos.
Em regiões de temperaturas mais quentes, o ciclo da videira é mais rápido. A brotação ocorre mais cedo na primavera e as fases do ciclo se antecipam. O aumento da temperatura acelera a taxa de acúmulo de açúcar e redução da acidez, mas não acelera o amadurecimento da maioria dos compostos de aromas e taninos. Os efeitos sobre os compostos aromáticos são complexos, mas é provável que, à medida que as temperaturas aumentam, ocorra uma mudança no perfil aromático de uvas de certas regiões. Algumas podem ficar muito quentes para determinadas castas, sendo necessário cultivar uvas diferentes, principalmente as de maturação tardia, para continuar a fornecer vinhos equilibrados.
Embora o aumento de temperatura seja problemático para uma boa parcela das regiões vitivinícolas, existe potencial para o aumento de qualidade e rendimento em regiões e/ou países que anteriormente eram muito frios para amadurecer as uvas.
Certas regiões vinícolas, como parte da Califórnia e da África do Sul, estão demonstrando problemas significativos com temperaturas excessivas e/ou secas, inclusive incêndios florestais mais extremos (responsáveis pelo famoso aroma indesejado - smoke taint, que demanda um trabalhoso monitoramento). Inclusive, estima-se que alguns vinhedos em muitos dessas regiões serão abandonados nos próximos 50 - 100 anos.
Mesmo em regiões que normalmente apresentam níveis adequados de chuvas, o aumento da pluviosidade e umidade em épocas indesejáveis do ano, como pouco antes do período de colheita, pode desencadear o desenvolvimento de doenças na planta.
Já, o aumento da frequência de eventos climáticos extremos e erráticos é problemático para todas as regiões, como a ocorrência de tempestades, furacões, inundações, geadas fora de época e ondas de calor, que podem reduzir substancialmente os rendimentos ou a qualidade da uva.
O que fazer?
Muitos vitivinicultores já começaram a agir, tanto para mitigar as mudanças climáticas quanto para melhor se adaptar aos efeitos das mesmas, através da prática de técnicas sustentáveis, usando recursos de energia renovável e da viticultura sustentável.
Os produtores de vinho são apenas parte do cenário. Um futuro sustentável para o vinho requer ação em todas as etapas da cadeia de suprimentos. O transporte e a embalagem estão entre as maiores fontes de emissões de CO2. Nesse sentido, diversos estudos científicos para mitigar os efeitos e viabilizar opções estão em andamento.
De forma geral, mundialmente existe um movimento de redução das emissões, adaptação aos impactos climáticos e financiamento dos ajustes necessários.
Em resumo:
A seleção do local, escolha da variedade adequada e a eficácia de diferentes técnicas de manejo são fatores importantes a serem considerados antes do plantio de vinhedos.