Travaglini
Gattinara 2021
Você já deve ter provado alguns vinhos que não fizeram jus à fama das suas origens, certo?
O mundo do vinho passa por dois fenômenos claros nas últimas décadas: enquanto o preço dos rótulos de regiões prestigiadas está em franca ascensão, a produção destas mesmas regiões cresce em volume, com muitos vinhos medíocres adentrando o cenário.
É fato, nos últimos anos o mercado foi inundado por Barolos e Barbarescos que nem de longe mereciam carregar o prestigiado nome de suas DOCGs. Já produtores de qualidade, como Pio Cesare, Bruno Giacosa e Giacomo Conterno, viram uma demanda crescente escalar o preço de seus ícones a níveis estratosféricos.
A solução para os meros mortais que querem continuar se deliciando com a alta qualidade desses vinhos? Expandir fronteiras. E claro, contar com uma curadoria confiável ;-)
É o que fazemos neste oferta semanal, trazendo um primoroso Gattinara. Se você ainda não ouviu falar desta DOCG, saiba que ela rivaliza em qualidade com Barolo e Barbaresco.
Na verdade, ela tem uma história muito interessante. Já no século XVI começou a ter vinhedos classificados em função da qualidade de suas uvas, e até o século XIX tinha uma reputação superior à de Barolo. Por ser uma área pequena, nunca produziu volume suficiente para se tornar um sucesso internacional, mas até hoje os entendidos dizem que os vinhos de Gattinara tem potencial de guarda ainda maior que os das comunas mais famosas do Piemonte.
Elaborado pela secular vinícola Travaglini — principal produtora da região, com cinco gerações familiares dedicadas exclusivamente a vinicultura — temos aqui um varietal de Spanna (nome local para a Nebbiolo), envelhecido por 36 meses em uma mescla de barricas francesas e botti do leste europeu.
Suas uvas têm origem em colinas voltadas para o sul, onde a excelente exposição solar permite que a tardia Nebbiolo amadureça plenamente. Os solos vulcânicos de lapilli outorgam ao vinho uma distinta mineralidade.
O cuidado na elaboração é finalizado com uma charmosa garrafa, desenhada para capturar os sedimentos durante o serviço do vinho, permitindo mesmo que exemplares mais antigos sejam servidos sem a necessidade de decantação.
Na taça temos um vinhaço! O aroma mostra uma complexidade avassaladora, com notas de amarena, rosas, chocolate, alcatrão, ervas medicinais, frutos secos e o clássico sottobosco.
Na boca denuncia uma Nebbiolo de alto nível, carregada de taninos e acidez, com um perfil decididamente gastronômico. Apesar de estruturado, é elegante e polido, com cada gole convidando ao próximo.
Finalizamos nosso review com uma frase do fundador da vinícola, Clemente Travaglini: "A natureza lhe dá o máximo, portanto, a habilidade de um enólogo faz a diferença. Ele precisa saber como remover o mínimo possível daquilo que a natureza oferece."
Aproveite uma das 36 garrafas deste incrível Piemontês!